Pereirinha, nossa gargalhada imortal
Por Continentino Porto
José Pereira da Silva, o nosso Pereirinha, morreu no último domingo (17/03). Perdeu a batalha da vida para um infarto traiçoeiro. Visitei-o, com o amigo comum Sergio Caldieri, poucos dias antes do desenlace. Nesse encontro, falamos do presidente Bolsonaro. E concordamos em que ele – Pereirinha – podia (como não?!) topar um projeto tão audacioso como o que elegeu o presidente, guardadas as proporções: ser candidato nas próximas eleições a vereador por São Gonçalo, com o apoio do ex-prefeito e deputado federal Osmar Leitão Rosa.
Foi nossa última conversa chancelada por um abraço apertado, quando ele frisou que não escondia o orgulho de ter duas cidades de coração fiel, separadas por mais de quatro mil quilômetros: Alagoas e São Gonçalo. A primeira, onde nasceu; Na segunda, onde viveu seus setenta anos bem vividos. E até felizes..
Pereirinha começou a longa experiência como repórter no jornal O Dia, onde entrou como estagiário. Então não tinha emprego algum, nem experiência de redação ou sequer familiaridade com a máquina de escrever em tempos de inexistência de computador.
Entre as atribuições que lhe deram estava a de correr atrás da notícia policial registradas nos BOs das delegacias. Ao receber pela vez primeira a pauta do chefe de reportagem, Pereirinha não entendeu muito quando lhe pediram para dar uma corrida – jargão jornalistico de ligar para as DPs. E conta que começou a correr no amplo salão da redação.
Foi quando o diretor de redação, que estava no seu gabinete- conhecido como aquário- começou a gritar.
-“O que este maluco está fazendo? Pensa que a redação é uma pista de corrida?”.
Contando ninguém acredita, mas o chefe da reportagem tentou explicar: – “É o novo estagiário que eu pedi para fazer uma corrida policial”…
E Pereirinha, realmente, não perdeu a corrida maior, que era subir no jornalismo. De O Dia, como repórter, foi para O Fluminense, depois Folha de S.Paulo, Jornal do Comércio, A Tribuna e Metro Car.
Transformou-se então em um dos raros jornalistas profissionais que não foi rotulado de esquerda ou de direita. Preferia sempre o centro.
E jamais se furtava de esconder episódios de interpretação conhecidos como “cascatas”. Suas críticas eram também feitas com elegância como se estivesse a observar prós e contras:
– “Nunca ofendi a ninguém”, dizia.
Seu sorriso, ou melhor, sua gargalhada era irresistível, mesmo quando explodia ser propósito ou na ausência de notícia hilária. Eram gargalhadas que poderiam exprimir uma secreta sensação coletiva de permanente ridículo a revestir sempre comportamentos, vamos dizer, políticos.
E assim será uma gargalhada eterna para o jornalismo diário.
Este foi José Pereira da Silva, o nosso Pereirinha, permanentemente de plantão com a notícia política. Como diretor foi também um plantonista das causas do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro. Foi conselheiro da ABI.
Continentino Porto é jornalista