Repúdio contra assassinato em Italva

Nota oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro em repúdio ao covarde assassinato do jornalista Luiz Carlos Gomes, em Italva, que se soma a quase 30 assassinatos de jornalistas no interior do Estado do Rio de Janeiro, muitos até hoje sem esclarecimentos e conclusão dos processos nos órgãos públicos.

A violência contra os jornalistas, assim como a desqualificação e a banalização da profissão, se intensifica no interior do Estado do Rio de Janeiro.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro destaca o Editorial do jornalista e editor do jornal a Folha, Astrogildo Milagres, pela sua seriedade, relevância e atualidade.

Editorial

O brutal e covarde assassinato do jornalista e diretor do Jornal “Tempo News”, que tem sede em Italva e circula em todo o Noroeste, Luiz Carlos Gomes, não é um caso isolado, pelo contrário. Os crescentes ataques à imprensa e à liberdade de expressão em todo o mundo também aumentam os crimes contra jornalistas, alerta a Unesco no 10º aniversário do seu plano para a proteção de profissionais da imprensa.

Dentre tantos casos no Estado, um até hoje nos aflige. Foi o assassinato do também jornalista e diretor do “Gazeta de São Fidélis”, Aristeu Guida, ocorrido em 1995. O documento da agência da ONU estabelece diretrizes para a defesa do trabalho da mídia e destaca a impunidade nos casos relacionados a jornalistas, sejam assassinatos, detenções arbitrárias ou intimidações.

Segundo o relatório ‘Ameaças que Silenciam’, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entre 2016 e 2020, 14 jornalistas foram assassinados no Brasil. Esse dado coloca o país em décimo lugar no ranking de nações com mais assassinatos entre profissionais da imprensa, atrás apenas do México (61 mortos), Afeganistão (51), Síria (34), Iêmen (24), Iraque (23), Paquistão (23), Índia (22), Somália (18) e Filipinas (16), conforme denuncia a Associação dos Diretores de Jornais interior do Rio de Janeiro.

O mais grave é que os crimes contra jornalistas ficam impunes e a própria Unesco observa que, apesar de avanços em promover a liberdade de imprensa na última década, 455 jornalistas foram mortos entre 2016 e 2021, segundo o monitoramento da agência. É bem verdade que o Plano de Ação da ONU sobre a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade defende que “sem liberdade de expressão, e particularmente a liberdade de imprensa, é impossível uma cidadania informada, ativa e engajada”. Mas isso não chega ao interior e mais especificamente, ao Noroeste Fluminense.

Após 10 anos da criação do documento, o destaque infelizmente é para a impunidade. Há uma década, o plano da Unesco já destacava que a falta de investigação e resolução de crimes contra jornalistas era um problema sério a ser resolvido pelos países democráticos e, os profissionais que atuam em pequenas cidades, se tornam alvo e presas fáceis, pois ao contrário dos grandes centros urbanos, os agressores sabem o cotidiano dos jornalistas, conhecem suas famílias, endereços e locais de lazer.

Os documentos dos organismos como Unesco são taxativos ao afirmar que “A escala e o número de ataques à mídia em todo o mundo – a grande maioria cometidos com impunidade – contribuíram para o alto nível de risco pessoal que jornalistas e profissionais de mídia enfrentam no desempenho de seu trabalho Como última forma de censura, a cada cinco dias um jornalista é morto por trazer informações ao público”, sem contar os demais ataques à imprensa do interior.

Com preocupação, sabemos que o Brasil é um dos integrantes do “clube” de 12 países em que agressões à imprensa sem que os autores sejam responsabilizados se repete com frequência, embora não esteja entre as nações com maior número de assassinatos, o país tem se destacado no noticiário internacional por ataques físicos e verbais contra profissionais de imprensa e isso não se repete com frequência entre nós do interior.

Para diminuir todos os crimes contra jornalistas, a Unesco realizou nos últimos anos diversos projetos e iniciativas globais que incentivam a liberdade de expressão e segurança de jornalistas, instando as nações a fornecer um ambiente mais seguro para os profissionais e fortalecer coalizões e a implementação de ações diante de ameaças aos jornalistas e à liberdade de expressão que ocorrem em todo o mundo, com destaque, mais uma vez e, infelizmente, nas cidades de pequeno porte, com as que compõem o Noroeste.

Sabemos que ao longo dos últimos 10 anos, a Unesco realizou muitas ações para minimizar os crimes contra jornalistas, dando uma ênfase maior aos casos que envolviam profissionais mulheres — alvos principais de ataques deliberados nas redes sociais e vítimas de constante assédio governamental, coisa muito comum em nossos municípios.

Alertamos que mesmo sem a “proteção” que os profissionais da grande mídia, nós do interior, vamos continuar combatendo esses e outros crimes, não somente para preservar nossa vida e meio de vida, mas em respeito e honra a profissionais como Aristeu Guida e Luiz Carlos Gomes.

Não vamos nos esmorecer!
O Editor

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